A Constelação de Leão.
Este não é um leão comum, tão pouco rei, passa longe da
história do Rei Leão dos cinemas. Essa história começa na África, numa noite de
lua cheia, onde os astros se alinharam de uma forma misteriosa, o céu estava iluminando
tudo ao seu redor, dando sinais que algo aconteceria com o passar do tempo.
O enorme leão, observava atento aos sons da savana, embaixo
de um pé de acácia, como a arborização era escassa, ali seria um bom local de
descanso. Levantou sua enorme cabeça para sentir no ar, todo e qualquer cheiro
que pudesse lhe avisar do perigo. Sentiu algo diferente, como se as narinas o
levassem para bem longe, talvez um passado de sua linhagem.
Ecoavam em sua memória, fatos, visões e pequenas lembranças
de seus antepassados. Serenamente ouviu no fundo do seu ser, uma voz que lhe
chamava por Anima... não distinguia a pronuncia, se era Anima ou Ânima.
Sentia algo familiar, como um sopro, um ar passando por suas
grandes orelhas, quem sabe uma brisa gelada.
Só podia ser sua avó, a grande e velha mãe, que a todos
cuidava para que sua jovem mãe pudesse caçar. Tellus a sábia avó leoa, ensinou
tudo a Anima e seus irmãos, foi Tellus que lhe disse a origem do seu nome. Significava
exatamente o que sentia nesse momento, “um sopro, um ar, uma brisa”.
Anima começara a lembrar mais forte, a noite gelada lhe
batia na face com memórias de um tempo feliz, continuou a rever a infância.
Viu que Tellus era a terra, aquela que cuidava de tudo, sua
avó, por parte de mãe. Seus olhos se iluminaram ao rever a imagem da própria
mãe, Vita lhe veio à mente, uma leoa feroz nas lutas por alimento e doce como a
vida, por isso o nome maternal Vita, era a origem de Anima, aquela que lhe deu
vida. Através do ar, soprado feito brisa em seus pulmões.
Vida... Vita! Princípio
vital, alma, algo que não se pode tocar, mas existe, anima e dá ânimo ao corpo
do grande leão.
Anima fitava o céu, sentia
um prazer em rever fatos que lhe marcaram fortemente o coração. Num repente
recordou seu pai, que nas práticas de caça, se aborrecia com o erro ao cerco da
vítima, isso custaria fome por vários dias ao bando todo. Com olhar sisudo
chamava o filho de Ânima, cuja entonação destoava e muito do Anima dito por sua
mãe Vita tão carinhosamente.
Soava como um trovão no
meio da savana, todos se aquietavam, o medo virava um respeito mortal.
Anima temia ser chamado de
Ânima, sabia que ambas as palavras tinham o mesmo significado, mas Ânima
era algo mais íntimo e pessoal, atingia o cerne de sua alma, tinha sua origem
nos povos Árabes, descendência de seu velho pai. A história passava de boca em
boca no bando, onde contavam sobre uma força divina, que animava todos os
seres, tanto homens, como animais, tudo o que tivesse alma no mundo. Por um
segundo Anima sentiu que em meio aos seus pensamentos mais profundos, algo lhe
apareceu na visão periférica, tentou aguçar a visão, mas a perdeu no céu.
Sentia-se sozinho, alguma coisa lhe faltava, não havia
constituído família, andava com outros leões remanescentes de bandos desfeitos,
alguns morreram de velhos ou de fome, outros foram expulsos. Temia por um fim
igual.
Anima escuta dentro do seu ser as mesmas vozes.
_Levante-se, procure!
_Olhe para o céu Anima querido!
Perguntava-se: Acaso a fome estaria me deixando louco?
O que teria no céu, que aqui nessa terra dura, já não tenha
de precário para continuar vivo?
Ouviu então o temido trovão.
_Ânima! Erga-se!
_Olhe para o bendito céu!
O grande leão tremeu... Era a voz do pai, o imbatível
Rugitus, nome dado ao patriarca do bando por seu rugido extremamente
assustador.
_ERGA-SE ÂNIMA, AGORA!
Assustado, sozinho, sentiu-se vulnerável, todos já haviam
morrido, o pai, a mãe e a avó, de onde viriam tais vozes? O que queriam?
_Medite Anima, sinta-se um grande leão, passando suavemente
entre os longos galhos da acácia, sinta o seu perfume, suas flores tão
cheirosas... Sinta o aroma semelhante ao do alcaçuz.
_Observe a noite clara, tão iluminada pela lua cheia, ouça
os sons chegando aos seus ouvidos, o viço das folhas tocando em sua juba, o
orvalho frio da noite africana te chama a olhar o céu.
_OUÇA ÂNIMA! O grande silêncio clama, olhe o céu estrelado
meu filho.
Anima então percebeu uma constelação no límpido céu,
identificou um Leão na formação das estrelas, reconheceu ali o desenho de uma
das mais antigas constelações.
Cintilava Regulus a mais forte, a Alfa de todas, era seu
pai, o imbatível Rugitus.
Logo detectou Zosma, era a sua avó, a sabia Tellus.
Brilhando docemente viu Denébola, sua mãe Vita.
Estas três estrelas são as mais importantes dentro da
constelação de Leão e atualmente tem incidência sobre o signo de Virgem. A
figura que a constelação forma é a de um poderoso leão, mas não um leãozinho
qualquer não.
Formam O Leão Celeste da Constelação de Leão.
O leão é nada menos do que o leão da Neméia, que faz parte
da mitologia grega, tendo sido sua morte um dos doze trabalhos de Hércules.
Anima, estupefato vê um clarão cortar o céu e se acabar por
trás da grande e perfumada Acácia. Paralisado vê sair de trás do tronco uma
leoa, com a caça ainda entre os dentes. Num gesto de agrado, deposita o
alimento frente as patas de Anima.
A vida, (Vita), renasceria, vencendo a fome, a coragem
imbatível trouxe o alimento, (Rugitus) e a união da vida e da coragem,
resultaram no surgimento da sabedoria. Tellus dava uma nova chance para
recomeçar e dar fim a solidão do grande leão.
O céu lhe trouxe Neméia, a grande felina, par de Anima, que passado
algum tempo, dessa união, gerou o Leão de Neméia, assim chamado por toda a
família dos leões, que na verdade, é conhecido entre os humanos que estudam o
céu, como “panthera” e engloba vários felinos de grande porte, como o tigre, o
puma, a onça e também o leopardo, seus antigos irmãos da infância.
São eles o verdadeiro símbolo solar, principalmente por
conta da cor dourada e da gloriosa juba que é presente nos machos da espécie,
às vezes loira, às vezes negra.
A partir daquela noite, a história registrou o poder da
hierarquia familiar dos antepassados de Anima, revivendo suas glórias nos
descendentes dessa união. Os homens então passaram a esculpir em seus brasões, estandartes
monárquicos e militares, a presença dessas criaturas poderosas, como os grifos,
as mantícoras, quimeras, esfinges e muito mais.
Agora seriam os representantes supremos de poder.
Astronomicamente falando, a constelação de Leão é grande,
uma das maiores. Suas estrelas são brilhantes, e todas elas podem ser vistas
como a força, coragem e liderança presentes nos que nascem sob este signo.
O grande leão Anima, então dá seu rugido profundo e
assustador, toda vez que é lua cheia e um brilho corta o céu. É Anima marcando
seu território!
Dando ALMA a savana.